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A RUA DA MINHA INFÂNCIA E OS CAMINHOS QUE ENCONTREI PARA MINHA FILHA

  • Foto do escritor: Daniela Scotti
    Daniela Scotti
  • 16 de set.
  • 2 min de leitura
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Depois da escola, eu ia direto para a casa da minha avó.

Minha mãe trabalhava o dia todo, e a casa da vó era o melhor lugar do mundo.


Havia cachorros, quintal, comida boa… e liberdade.


Brincava na rua com os netos da vizinhança, no cair da tarde, até escurecer.


Aprendi a andar de bicicleta ali, olhando para os dois lados antes de atravessar.


Corria, pulava, inventava jogos.


Sentia o sol, o vento, o chão quente, o cheiro da terra depois da chuva.


Era uma infância inteira.


Livre.


Cheia de mundo.


Hoje, sou mãe.


Minha filha também fica com a avó depois da escola — e isso me alegra.


Mas, como muitas mães da cidade grande, sinto falta de oferecer a ela a rua da minha infância.


A rua, o brincar livre, o quintal aberto.


Tudo isso ficou mais difícil.


Mais raro.


Mais vigiado.


Mas não impossível.


Em casa, ela tem um cachorrinho — e sou grata por isso.


Sei o quanto crescer com animais desenvolve empatia, cuidado e afeto.


Sei que nem todos conseguem proporcionar isso aos filhos — e tudo bem.


Não se trata de fazer igual, mas de fazer o melhor possível com o que se tem.


O que eu não queria era abrir mão da natureza como parte da infância dela.


Por isso, por muitos anos, eu e meu marido fizemos um acordo silencioso: aos finais de semana, não vamos só resolver pendências.


Vamos viver com ela.


Visitamos parques, respiramos verde, nos molhamos com chuva fina no rosto.


Ela correu na grama, caiu, se sujou.


Fez amizade com crianças que nunca tinha visto antes — e que talvez nunca mais veria.


E tudo isso importou.


Porque a infância precisa de espaço.


De vento no rosto.


De gente diferente.


De não fazer nada produtivo e, ainda assim, viver profundamente.

Hoje, ela é adolescente.


E tem muitas histórias para contar.


E eu penso: missão cumprida — ou, pelo menos, bem tentada.

A infância é maravilhosa. Mas passa rápido.


E, às vezes, na correria da vida adulta, a gente se perde.

Começa a ver o brincar como perda de tempo.


A natureza como “passeio de domingo, se der tempo”.


As crianças como extensões da nossa agenda cheia.


Mas quando tudo parecer sufocante, talvez o caminho seja voltar.


Voltar para a simplicidade.


Para a terra nos pés.


Para o cachorro no quintal.


Para a tarde sem compromisso.


E, quem sabe, nesse retorno, a gente reencontre nossa criança também.

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