A coragem de não saber
- Daniela Scotti

- 9 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de set.

Minha mãe, com seus 80 anos, começou um curso há pouco tempo.
Ouviu a professora dizer, em sala, que não sabia responder a uma pergunta.
E achou estranho.
“Professora não pode dizer que não sabe” — ela me disse, franzindo a testa.
Sorri com leveza.
Sentei ao lado dela.
E, com carinho, fui dizendo:
— Mãe, pode sim. Deve.
Porque ser professor não é saber tudo.
É estar disposto a aprender — mesmo com 30 alunos nos olhando.
É ter humildade para dizer: “essa pergunta é boa. Vamos descobrir juntos?”
Mas entendo minha mãe.
Na escola da infância dela, o professor era autoridade inquestionável.
Errar era fraqueza.
Silenciar era regra.
E admitir não saber… era quase um crime.
O tempo passou.
Mas muitos ainda carregam essa ideia.
Professores exaustos tentando vestir uma capa que não serve mais:
a do herói incansável.
Do mestre que nunca falha.
Do adulto que sempre tem a resposta certa.
E eu te pergunto, colega educador:
Quantas vezes você já fingiu saber para não se sentir menor?
Quantas vezes carregou uma dúvida calado?
Quantas vezes achou que não podia falhar?
Eu também já me cobrei demais.
Como orientadora educacional, há dias em que me sinto impotente.
Vejo uma criança em crise, tentando se autorregular,
e percebo que nada do que faço surte efeito imediato.
A frustração vem.
O pensamento duro: “você deveria saber o que fazer.”
Mas aí, respiro.
Lembro das palavras de Brené Brown, em A Coragem de Ser Imperfeito.
E repito para mim:
“Vulnerabilidade não é fraqueza.
É o caminho mais corajoso que existe.”
E sigo.
Estudo.
Experimento estratégias.
Converso com colegas.
E, acima de tudo, converso com as crianças.
Porque elas, como nós, são humanas.
E merecem ser escutadas em suas necessidades reais — não apenas conduzidas por protocolos.
O que elas precisam da gente não é perfeição.
É presença.
É escuta.
É coerência.
É um adulto que diga:
“não sei agora, mas vou procurar entender.
Estou aqui com você.”
Temos que parar de romantizar o educador que dá conta de tudo.
Isso não é força.
É autonegligência.
Ser educador é se permitir aprender o tempo todo.
É ter coragem de errar com consciência.
De pedir ajuda.
De não saber — e, mesmo assim, seguir tentando.
Porque a verdadeira autoridade nasce da humildade.
E o verdadeiro ensino nasce da vulnerabilidade.



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