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Quando a escola escuta de verdade

  • Foto do escritor: Daniela Scotti
    Daniela Scotti
  • 23 de set.
  • 2 min de leitura
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Eu estava no terceiro ano do ensino médio. A academia onde eu dava aula de sapateado iria fechar — e, como toda adolescente, eu sentia que o chão estava desabando.


Contei o que estava acontecendo para a diretora da escola onde estudava. E, em vez de apenas me ouvir, ela me enxergou. — Por que você não dá aula aqui na escola? — disse, como se fosse simples.


E foi.


Ali, naquela proposta generosa, nascia algo muito maior do que uma oportunidade: nascia minha paixão pela educação.


Comecei com o sapateado. Depois vieram as aulas de Educação Física. Hidroginástica. Projetos. Ideias. Convites.


Sempre que eu levava uma ideia, ela aceitava. Não só ela — todos os envolvidos. Era como se existisse, naquela escola, uma atmosfera de confiança que dava espaço para que todos pudessem florescer: alunos, professores, famílias.


E florescemos.


Passávamos finais de semana inteiros juntos. Em competições de dança. Viajávamos para Joinville, Campos do Jordão, Mongaguá, Campinas, Valinhos…Dormíamos em alojamentos, ríamos no carro, nos emocionávamos no palco.


E tudo isso só aconteceu porque havia relação. Havia escuta. Havia parceria real.


Aquelas alunas — com quem mantenho vínculo até hoje — não se formaram apenas comigo. Elas foram formadas por um conjunto de pessoas e gestos que disseram: “Nós acreditamos em vocês.”


E as famílias? Essas embarcavam conosco em todas as “loucuras”.

Entendiam o valor das experiências. Confiavam.


Essa confiança se tornou solo fértil para uma formação que ia muito além da dança.


Hoje, tenho saudade dessa fase. Mas, mais do que isso, tenho gratidão. Porque tudo o que sou como educadora começou ali: numa escola que me acolheu, não só como aluna, mas como sujeito.


E penso: que bom seria se todas as escolas pudessem oferecer isso. Não falo de viagens, nem de projetos grandiosos. Falo de espaço para escuta. De reconhecimento do aluno como alguém com ideias, sonhos, repertórios.


Falo de uma escola que não se limita ao conteúdo. Que entende que educar é construir vínculos que atravessam o tempo.


A parceria entre escola e família não precisa ser íntima. Mas precisa ser verdadeira. E, quando é, marca vidas — como marcou a minha.

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