QUANDO UMA MÃE GRITOU COMIGO
- Daniela Scotti

- 30 de set.
- 2 min de leitura

Eu tinha 18 anos. Era professora de sapateado. Turma pequena, crianças envolvidas, aulas fluindo.
Até que, um dia, sem aviso, veio a tempestade.
A mãe de uma aluna entrou na escola. Tomada pela emoção, não me ouviu. Gritou. Na frente de todos. Questionou meu trabalho, meu jeito de conduzir a aula, minha postura.
Naquele instante, tudo dentro de mim queria congelar. Mas alguma coisa — talvez o senso de responsabilidade, talvez a certeza do que eu fazia — me sustentou.
Esperei ela terminar. E, com a mesma educação que eu colocava nas aulas, respondi. Com calma. Com clareza. E, acima de tudo, com convicção.
Mostrei meu ponto. Apresentei o que havia sido feito. Falei sobre a escuta da criança. Sobre a construção da confiança em sala. E sobre a intenção por trás de cada passo que propus.
Ela não gritou mais.
Naquele dia, entendi algo que carrego até hoje: autoridade não é tom de voz. É consciência do próprio trabalho.
Desde então, tenho visto muitos professores temerem os momentos com as famílias. Evitar reuniões. Se encolher em atendimentos. Se justificar demais. E, às vezes, até duvidar do próprio trabalho diante de um pai ou de uma mãe exaltados.
Quero dizer, com toda a força da minha trajetória: Professor, você é o especialista. Você está ali todos os dias. Você observa. Você acolhe. Você percebe sinais que, muitas vezes, nem a família vê.
Seu olhar tem valor. Seu argumento tem fundamento. Seu trabalho tem propósito.
Não se trata de disputar com a família. Mas também não se trata de se curvar ao grito.
Família e escola precisam andar juntas — mas cada uma com sua responsabilidade. E a sua, professor, é educar. Com escuta, com empatia, mas também com posicionamento.
Dizer o que precisa ser dito. Apontar o que a criança precisa. E sustentar a fala com o que só você tem: a vivência de quem está no chão da sala.
Naquele dia, aos 18, eu aprendi que não precisava ter medo. Eu só precisava estar firme. Com respeito, sim. Mas com a certeza de que o meu trabalho tem valor.
E é isso que desejo a todo educador: Que encontre essa firmeza. Mesmo quando o outro lado grita. Mesmo quando vem o medo. Mesmo quando a insegurança tenta calar sua voz.
Porque o mundo precisa de professores que sabem o que fazem —e que sabem dizer isso em voz alta.



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