ATÉ QUANDO DEVO LER PARA O MEU FILHO?
- Daniela Cabrera

- 17 de out.
- 2 min de leitura

Todos os anos, convidamos as famílias da Educação Infantil para encontros formativos, com o objetivo de estreitar o diálogo entre escola e família e compartilhar conteúdos significativos para a formação dos nossos pequenos.
Em um desses encontros, conversávamos sobre a importância da literatura no cotidiano — como ela impulsiona diálogos, acolhe emoções e amplia o repertório cultural das crianças. Falávamos também sobre como esse trabalho é conduzido na escola, quando um pai fez a seguinte pergunta: “Até quando devo ler para a minha filha?”
Naquele momento, me suspendi. Refleti profundamente: como responder de forma prática, com linguagem acessível, e ao mesmo tempo preservar a beleza e a potência da escuta literária? Como explicar que a leitura compartilhada não tem data de validade?
Essa pergunta, embora simples à primeira vista, carrega muitas camadas. No fundo, o que o pai queria saber era: Quando ela vai aprender a ler sozinha? Se eu continuar lendo para ela, será que não vai se acomodar e deixar de se esforçar para decodificar as palavras?
Essa dúvida é legítima e frequente — e nos ajuda a pensar sobre o lugar da leitura na infância.
A escritora María Teresa Andruetto nos convida a refletir sobre o risco da escolarização da literatura — quando os livros passam a ser usados apenas para atingir objetivos pedagógicos, como identificar letras, reconhecer sons ou responder a perguntas. Com isso, perdem sua função mais nobre: tocar, emocionar, provocar, abrir horizontes, acolher dúvidas e construir sentido.
Ler para uma criança não é apenas um ato de mediação técnica. É um gesto de afeto e de encontro; um tempo de presença compartilhada. É oferecer à criança não só o mundo das palavras, mas também o das sensações, imagens e perguntas que não precisam de resposta.
Por isso, a resposta que ofereço — a mim mesma e àquele pai — é: Leia para sua filha até quando ela deixar que você leia. Ou melhor: leia para ela sempre que houver um tempo entre vocês.
Mesmo quando ela já souber decodificar, mesmo quando crescer e ler sozinha, mesmo quando for adulta e precisar de abrigo em palavras.
Porque, mais do que ensinar a ler, queremos formar leitores de mundo — e esse é um processo que não termina na infância.



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