O LIVRO-ÁLBUM E OS PEQUENOS GRANDES LEITORES

Um pai da Educação Infantil comentou: “Paguei uma fortuna nesse livro e, quando abri, só tinha imagens. Esse livro não ensina a ler.”

Desconstruir a ideia de que apenas lê quem decodifica palavras não é um percurso simples.

No imaginário adulto, a criança só é considerada leitora quando lê convencionalmente. No entanto, lemos muito antes disso, pois carregamos nossas bagagens interpretativas.

Desde o nascimento, o bebê começa a “ler” os olhos da mãe — ou de quem o acolhe —, as expressões faciais e o ambiente ao seu redor. Ele faz movimentos de ação e reação para perceber qual será a resposta das pessoas próximas. É assim que, pouco a pouco, vamos nos constituindo como leitores do mundo.

Com o tempo, somos apresentados a uma das triangulações mais potentes: adulto, criança e livro. Nesse encontro, o adulto empresta sua voz para dar asas à imaginação da criança, faz perguntas sobre as ilustrações, provoca hipóteses a partir das imagens e, assim, a criança realiza sua própria leitura.

Quando um livro-álbum encontra uma criança, damos a ela a oportunidade de assumir o lugar de autora. A criança se posiciona como leitora, como protagonista da narrativa. Por isso, eles são considerados uma porta de entrada privilegiada para a formação de leitores, já que permitem à criança experimentar a leitura mesmo antes de dominar a decodificação convencional das palavras.

Reconhecer as crianças como leitoras e escritoras, mesmo antes de a leitura e a escrita convencionais estarem consolidadas, é um gesto essencial para o fortalecimento desse processo. Em ambos os percursos — ler e escrever — lidamos com tentativas, erros e descobertas. Se a autoestima não estiver fortalecida, a jornada será mais difícil para os pequenos.

Coloque um livro-álbum nas mãos das crianças e encare-as como leitoras e criadoras de narrativas. Tenho certeza de que vocês se surpreenderão com as histórias que elas são capazes de construir.