“Coordenação e Orientação: quando cuidar não cabe em um só cargo”
- Daniela Scotti

- há 1 dia
- 2 min de leitura

Durante muito tempo, eu fui as duas. Coordenadora pedagógica. Orientadora educacional. Aquela que cuida do planejamento e também das urgências emocionais. Dos conteúdos e dos conflitos. Das reuniões com professores e das conversas olho no olho com as crianças — e seus pais.
Eram dias longos. Feitos de pauta e improviso. De escuta ativa e decisões rápidas. De acolhimento e relatório. De organização e lágrimas.
Porque, na prática, a escola não separa o pedagógico do emocional. A escola é uma só. A criança é uma só. E ela chega com tudo: o caderno, a mochila, a história, o afeto, o medo, a alegria, a frustração.
Como cuidar de tudo sozinha?Eu fiz o que dava. E, muitas vezes, fiz além do que podia.
Mas hoje tenho o que antes parecia impossível: uma parceira. Dividimos as funções. Coordenamos e orientamos, cada uma no seu espaço, mas sempre juntas. Nos apoiamos. Rimos. Choramos. Concordamos e discordamos. Mas nunca deixamos de olhar na mesma direção: o bem das crianças.
E isso não tem preço.
Porque a orientação educacional não é menor que a coordenação. Não é “menos pedagógica”. Pelo contrário: é profundamente pedagógica — porque se dedica a ensinar sobre o que sustenta qualquer processo de aprendizagem: as relações humanas.
O orientador educacional é aquele que acolhe as entrelinhas. Que lê o comportamento da criança como quem lê um texto em construção. Que acompanha a dor que não sai na prova. Que traduz o que o aluno sente, o que o professor percebe, o que a família não sabe como nomear.
É quem escuta mais do que fala. Quem segura a sala quando tudo desorganiza. Quem pensa no que está por trás da fala agressiva, da criança que não aprende, do adolescente que se isola.
A urgência do orientador é outra. É relacional. É humana. É emocional.
E, por isso, muitas vezes passa despercebida. Porque não tem dado. Não tem gráfico. Não tem planejamento visível.
Mas tem impacto.
E quando feita em parceria com uma coordenação que respeita e valoriza esse trabalho, o efeito é imenso. Para a criança, que se sente vista. Para o professor, que se sente apoiado. Para a escola, que se torna viva, afetiva, coerente.
Eu já estive sozinha nos dois papéis. Hoje sou orientadora com alguém ao lado. E posso dizer, com todas as letras: o cuidado compartilhado é mais potente. Mais verdadeiro. Mais possível.
Porque educar não é uma tarefa individual. É uma rede. E quando essa rede é feita de parceria sincera, ela segura tudo. Até os dias mais difíceis.



.jpeg)



Comentários