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“Professores também precisam de terapia?”

  • Foto do escritor: Daniela Scotti
    Daniela Scotti
  • 11 de nov.
  • 2 min de leitura

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Num café despretensioso, conversava com uma amiga que é psicóloga. Falávamos sobre vocações, escuta, relações. E ela disse, com naturalidade: — Na nossa formação, fazer terapia é obrigatório.

Aquilo ficou em mim. E se, para ser psicóloga, é preciso se cuidar, se olhar, se conhecer —por que isso ainda não é esperado (e incentivado) para quem educa?

Porque educar, no fim das contas, também é cuidar do outro. É escutar histórias. Acolher dores. Medir palavras. Lidar com frustrações, rupturas, silêncios.

Ser professora é ser profissional das relações. E quem trabalha com relações precisa, acima de tudo, olhar para a sua própria história.

Eu já fiz terapia. E sei o quanto isso me ajudou. A entender padrões. A ressignificar traumas. A perceber reações automáticas que não eram sobre o presente, mas sobre o passado que ainda me atravessava.

E confesso: tenho vontade de voltar. Porque não importa o quanto já caminhei — sempre há algo que precisa de cuidado, de escuta, de revisão.

Quantas vezes agimos com dureza… sem perceber que não é com a criança que estamos falando, mas com a nossa criança ferida? Quantas vezes evitamos conflitos… porque aprendemos que expor sentimentos é fraqueza? Quantas vezes nos sentimos incapazes… porque, lá atrás, alguém nos fez duvidar do nosso valor?

Tudo isso vai para a sala de aula. Mesmo que a gente não perceba. Mesmo que a gente ache que está tudo bem.

A terapia não é um luxo. É uma ferramenta de sobrevivência emocional. É um espaço seguro onde podemos nos desmontar — para depois nos reconstruir com mais verdade.

Na escola, falamos muito sobre a saúde emocional dos alunos. Mas… e a dos professores? Quem cuida de quem passa o dia inteiro segurando o mundo dos outros?

Não estou dizendo que todo educador tem que fazer terapia. Mas quero propor algo mais simples e mais profundo: que a gente normalize a ideia de que o professor também precisa de apoio. Que também sente, também adoece, também se perde. E que está tudo bem buscar ajuda.

Porque ensinar com presença exige que a gente esteja inteira. E estar inteira não é estar perfeita — é estar consciente do que sentimos e de como isso impacta o outro.

Eu sigo me cuidando. No ritmo possível. No tempo que dá. Mas sigo. Porque sei que, quanto mais me escuto, melhor escuto meus alunos e os professores que oriento na escola. E, quanto mais cuido da minha história, mais leve fica o presente que divido com eles.

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