João e Maria: a literatura como ponte para o enfrentamento da realidade

”Se você quer que seus filhos sejam inteligentes, leia contos de fadas para eles. Se você quer que eles sejam ainda mais inteligentes, leia ainda mais contos de fadas."

Essa citação é amplamente difundida em sites de citações, blogs educacionais e redes sociais. No entanto, não há registros documentados ou fontes primárias que confirmem que Einstein tenha realmente dito ou escrito essas palavras. Mesmo assim, vou utilizá-la para abrir a discussão sobre os contos de fadas.

Há um livro em especial que recomendo para a leitura: A psicanálise dos contos de fadas, de Bruno Bettelheim. Não cabe a nós, educadores, julgarmos os aspectos psicanalíticos dessas histórias, mas a obra é um prato cheio para compreendermos a potencialidade da leitura desses textos para nossas crianças.

Vamos fazer a conexão desses dois pontos: quando meu filho tinha cerca de três anos, nos mudamos do interior e ele começou a estudar em uma nova escola, enquanto meu esposo o acompanhava na adaptação. Lembro-me dele pedir repetidas vezes:— Mamãe, lê João e Maria pra mim!

Li esse livro várias vezes para ele, e no final ele sempre dizia:— Ufa, o papai encontrou eles e eles ficaram juntos!

Curiosamente, isso despertou meu interesse em compreender melhor os contos de fadas. Ao ler Bettelheim, percebi que histórias como João e Maria funcionam como uma forma de a criança confrontar a realidade — no caso dele, a adaptação escolar. Permite-se, assim, desvincular-se dos pais, experimentar riscos — como encontrar uma bruxa malvada ou se perder — e perceber que, no final, há reencontro e segurança.

Vale ressaltar que, no imaginário infantil, talvez nos primeiros dias de aula a professora possa se configurar como a bruxa malvada — afinal, é ela quem retira as crianças dos pais para ficarem sob seus cuidados.

Ler contos de fadas é, portanto, oferecer às crianças a chance de se tornarem leitoras de si mesmas e do mundo e ajudá-las no enfrentamento da realidade.