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O SAPATEADO ENSINOU ANTES DA PEDAGOGIA

  • Foto do escritor: Daniela Scotti
    Daniela Scotti
  • 25 de ago.
  • 2 min de leitura

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Antes do diploma, do cargo, das reuniões pedagógicas...Veio o som. O som dos pés no chão. O som do corpo que fala sem precisar de voz.


O sapateado americano apareceu na minha vida como quem acende uma luz em um lugar esquecido. Na adolescência, ainda tímida, encontrei numa sala de dança o que não encontrava em lugar nenhum: espaço para ser. Uma professora determinada e afetuosa me puxou para o palco — e eu fui. Ali, perdi o medo de me mostrar. E comecei a entender, sem saber ainda, o poder da escuta, da expressão e do vínculo.


Aos 17, virei professora. Três meninas. Pequenas, cheias de energia, inseguras, curiosas. Ensinava passos, sim. Mas, mais do que isso, aprendia com elas sobre paciência, presença, sobre como cada emoção entra na sala de aula sem pedir licença.


Uma tinha medo de errar. Outra ficava ansiosa antes da apresentação. A terceira se frustrava quando o ritmo não encaixava. Eu olhava para elas e via muito além da técnica. Via pessoas em formação. E entendi que ali, naquele espaço de dança, acontecia algo que nenhuma apostila ensinava: educar com o coração.


Não dava para corrigir um passo sem antes acolher a emoção. Não dava para ensinar a coreografia sem criar segurança. A escuta era parte da aula. O olhar atento era parte do método.


As três dançaram comigo até aproximadamente os 19 anos. Viraram professoras. Uma delas segue no mesmo lugar, dando aulas de sapateado americano, multiplicando o que vivemos.

O sapateado me ensinou o que a experiência depois confirmou: — que ninguém aprende com medo, — que vínculo é o primeiro passo de qualquer processo, — que o corpo fala o tempo todo, — e que o silêncio de um aluno diz mais que qualquer palavra.


Hoje, nas formações com professores, costumo lembrar disso: — que o aprender começa no sentir, — que a emoção é o pano de fundo de toda experiência, — e que, às vezes, o que uma criança mais precisa não é de uma explicação, mas de uma presença.


A dança me ensinou a escutar sem interromper. A esperar o tempo do outro. A entender que ensinar é criar compasso — não impor ritmo.


Se hoje sou educadora, é porque antes fui artista. E, se ainda há sensibilidade no meu trabalho, é porque meus pés aprenderam cedo que só se dança junto de verdade quando há conexão.

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