“Sensibilidade tem lugar na escola?”
- Daniela Scotti

- 25 de nov.
- 2 min de leitura

"Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu." — Rubem Alves
Na escola da minha infância, havia cheiro de terra molhada e riso solto correndo pelos corredores. Chave Mágica era o nome dela, e talvez fosse mesmo mágica. Lembro-me do chão debaixo dos pés pequenos, das mãos curiosas tocando tudo, da segurança invisível que só o afeto oferece.
Eu era menina, mas já brincava de ser professora. Imitava gestos, chamava as outras crianças, inventava lições com pedrinhas e folhas secas. Aprendi cedo que ensinar não era apenas dizer — era sentir junto.
Com o tempo, as brincadeiras viraram profissão. Na dança, aprendi sobre o corpo como expressão. No sapateado, cada batida do pé no chão dizia mais do que palavras. Tive que perder a timidez. E foi no som ritmado do palco que descobri a força da escuta, do olhar atento, da presença.
Assumi minha primeira turma aos 17: três meninas. Elas me ensinaram que medo se cura com paciência, que frustração precisa de colo, que vínculo não se impõe, se constrói.
Me formei em Educação Física. Depois, em Pedagogia. Entrei em sala com adolescentes, com crianças pequenas, com professores. Aprendi, em todos esses espaços, que conteúdo importa, mas não transforma se não encontrar um coração aberto. A escuta é a matéria-prima da aprendizagem.
Na coordenação pedagógica, o que mais encontrei foram urgências emocionais. Gente querendo ser ouvida. Professores cansados, crianças inquietas, pais ansiosos. Todos em busca de um espaço de acolhimento. De uma escola que fizesse sentido.
A pandemia chegou como um vendaval. Levou a previsibilidade. Escancarou o invisível: ansiedade, medo, tristeza. Crianças que voltaram diferentes. Professores também. Nada estava como antes. E nós ainda insistimos em planos de aula que não conversavam com o agora.
Vi professores aplicando dinâmicas sobre empatia enquanto gritavam na sala. Vi crianças falando sobre respeito enquanto empurravam colegas. Vi, e senti, que algo estava fora do lugar.
E me perguntei: estamos mesmo ensinando o que importa?
Falar de competências socioemocionais virou moda. Mas aplicar de verdade exige coragem. Exige um professor que se reconheça como ser humano. Que não tenha medo de dizer: “hoje não estou bem.” Que se permita rir, errar, respirar.
A escola pós-pandemia precisa de outra lógica. Não dá mais para separar o aprender do sentir. Não há conteúdo que se sustente em corações fechados.
Sensibilidade tem lugar na escola? Tem, sim. Tem que ter. Porque só quem sente, ensina de verdade.



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