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“Quem cuida de quem cuida?”

  • Foto do escritor: Daniela Scotti
    Daniela Scotti
  • 14 de out.
  • 2 min de leitura

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A pandemia já ficou para trás nos calendários. Mas o que ela revelou continua aqui. Presente. Gritando, mesmo quando ninguém fala sobre isso.

Ela escancarou o que já existia — mas estava escondido sob pilhas de planejamentos e reuniões: o esgotamento emocional de quem educa.

Hoje, o ensino é presencial. Os corredores voltaram a ter barulho. As salas estão cheias. As agendas, lotadas. Mas muitos professores continuam vazios por dentro.

É sutil. Mas perceptível.

— “Eles não escutam mais.”— “Estão sempre irritados.”— “Nada prende a atenção deles.”

Essas são as frases ditas em reuniões. Mas, por trás delas, há outras que raramente são verbalizadas:

— “Eu também estou cansado.”— “Eu também não sei mais o que fazer.”— “Eu também preciso de apoio.”

Durante a pandemia, exigimos dos professores o impossível.Aprenderam a ensinar pela tela, a acolher virtualmente, a segurar as pontas de um modelo que ninguém conhecia.Sem preparação.Sem estrutura emocional.Sem tempo para sentir medo.

Quando tudo voltou, o conteúdo correu para recuperar o “tempo perdido”. Mas será que alguém se perguntou: “E a saúde emocional dos professores, como ficou?”

Agora, anos depois, os efeitos ainda se acumulam: exaustão, frustração, afastamentos, desmotivação.

A escola fala sobre saúde mental — mas ainda exige resiliência como se fosse um botão. Como se o cuidado fosse sempre com o outro. Como se o professor tivesse que dar conta. Sempre.

Mas ninguém cuida bem se está em pedaços.

Se queremos uma escola viva, que acolhe, que ensina com sentido, precisamos parar de tratar o professor como um recurso. Ele é gente. Com corpo, com história, com emoções que transbordam.

Coordenação e orientação pedagógica não podem ser apenas espaços de organização. Precisam ser espaços de escuta. De colo. De confiança. De olhar sincero.

Porque não adianta falar de empatia com os alunos se não houver empatia com os adultos que os formam. Não adianta propor atividades sobre sentimentos se quem propõe está sufocado pelos próprios.

O cuidado precisa começar dentro. Na equipe. No cotidiano. Na maneira como falamos uns com os outros. Na liberdade de dizer: “hoje não estou bem. ”Na coragem de parar, olhar e perguntar: “Você está conseguindo respirar aí?”

Educar sempre foi um ato de amor. Mas amor também é pausa. É escuta. É reconhecer que ninguém é forte o tempo todo.

E talvez o passo mais urgente da educação hoje seja esse: criar um espaço onde o professor possa existir inteiro. E não só como quem sustenta o mundo.

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