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VOZES QUE ACOLHEM: A TRADIÇÃO ORAL

  • Foto do escritor: Daniela Cabrera
    Daniela Cabrera
  • 11 de set.
  • 1 min de leitura

Em tempos de pressa e telas brilhantes, pode parecer difícil imaginar o poder silencioso e transformador de uma voz que conta histórias. Mas, para muitas famílias, essa é uma herança viva: a tradição oral, que atravessa gerações e transforma a palavra em aconchego.


Minha infância foi marcada por narrativas contadas por minha mãe e minhas tias — mulheres que cresceram no interior de Pernambuco, num tempo em que o rádio era o meio mais moderno de comunicação e a natureza, o quintal de casa. Embora eu e minha irmã tenhamos crescido longe desse cenário — no coração de uma cidade marcada pela insegurança urbana —, viajávamos por meio das histórias de uma mãe aventureira, com cheiro de terra molhada e sabor de infância vivida com intensidade.


Essas histórias não eram apenas distração: eram resistência, transmissão de valores, criação de laços e apresentação de uma perspectiva de mundo. A cada narrativa ouvida, nos aproximávamos da história da nossa família, da cultura de um povo e, sobretudo, dos sentimentos humanos mais profundos: medo, coragem, justiça, solidariedade. O cuscuz compartilhado, o açude repleto de peixes, a espera pela roupa de chita para as festividades e o árduo trabalho de manter a famosa sandália Havaiana inteira ao longo do ano.


Pais e professores, saibamos valorizar esse gesto ancestral: contar histórias é também uma forma de pertencer. Não é preciso um cenário elaborado nem técnicas teatrais — basta a escuta atenta, a entonação envolvente, o desejo genuíno de partilhar. E, acima de tudo, a consciência de que, ao contar histórias, nos conectamos com o outro em uma das formas mais humanas de encontro: o da palavra viva.

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